domingo, outubro 10, 2004

CLOTILDE & MATILDE - Faltou alguma coisa

Ainda estava me recuperando dos intermináveis dias pré-eleições e seus programas eleitoreiros gratuitos, quando Clô me disse o absurdo:
- Anulei meu voto.
- Você o quê?
- Anulei meu voto.
Eu devia me prevenir e parar de tecer o pé de meia do Tio Oscar, mas não tomo vergonha na cara e, para parecer calma, continuei furiosamente o tricô.
- Mas Clô, você viu todos os programas eleitorais, leu todos os santinhos e me garantiu que esta tortura era preciso para que você se decidisse e escolhesse bem seu candidato...
- Pois então. Não consegui me decidir.
- Como não conseguiu se decidir? Faltou o quê? Não fizeram a propaganda direitinho? Você não me obrigou a ver essas caras de fuinha todos os dias para se decidir? Como não se decidiu?
- Não precisa gritar, Matilde.
- Como não precisa gritar? Meu sacrifício foi inútil?

Clotilde não despregava o olho da Maria do Carmo. Ela ficou sabendo pelo Leão, que a a senhora do destino quebraria a maior parte dos ossos da peçonhenta Nazaré e não podia se arriscar a perder o barraco. Eu já disse que Clotilde tem parte com o capeta e consegue fazer crochê sem tirar os olhos da televisão? Então.
- Tudo inútil, meu Deus! Tudo inútil!
- Então. Eles até que estavam bem apessoados, mas faltou alguma coisa. Por exemplo, o Zé da Muvuca garantiu que ia diminuir os impostos e aumentar o salário mínimo...
- Clotilde! Vereador não diminui impostos, nem... ai, meu Deus!
- Eu sei, Matilde. Quem não sabe é ele. Mas neste país tudo pode acontecer, não pode?
- Menos isto.
- Além do mais ele tinha um corte de cabelo bem jeitoso. Mas o Preto “não vote em branco, vote no Preto�, que nem preto é, não prometeu nada e me deixou confusa.
- Como? Porque?
- Porque o corte de cabelo dele não era tão jeitoso.
- Jesus!
- Mas votei pra prefeito. Votei no João de Deus.
- Não é João de Deus. É João Leite.
- Então votei errado. Alguém me falou que ele era um homem de Deus e eu sou católica, você sabe. Se alguém é de Deus eu voto nele.
- Ele é evangélico.
- Não é católico?
- Não.
Silêncio. Eu tentando encontrar todos os pontos perdidos do meu pé de meia. Clotilde com uma cara de remorso, alisou o crochê e murmurou:
-Vou ter que me confessar.

2 comentários:

Teruska disse...
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Anônimo disse...

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