segunda-feira, outubro 10, 2005

Frisson

-Chegou! Chegou!
-Ái, meu Deus! Porque será que me dá esta dor de barriga só de pensar?
-O banheiro ta lotado. Tem fila.
-É sempre assim. Vou me borrar todo. Abre logo.
-Quem tem uma nota aí?
Ninguém tinha. Tinham feito vaquinha e o que sobrara foram algumas moedas que agora não faziam a menor diferença.
-Cartão?... Alguém tem.
-De crédito?
- Ái, saco! De qualquer coisa, de visitas, bosta!
Os quatro se curvaram sobre a mesa, enquanto um deles abria o embrulho minúsculo com ar enlevado.
-Cuidado. Olha aí para não deixar cair. (risinho nervoso)
- Isso não tá me cheirando bem. A cor ta esquisita. Nem é branco...
- Boca, ô Boca!! Te enganaram, trouxa! Isto nem é branco! Ô trouxa! Caralho!
- Como me enganaram? Pode ser diferente a cor, mas que é, é!
- Tem certeza? Como tem certeza?
- Peraí. Deixa eu colocar um pouco na língua.
Silêncio enquanto Bóia Fria, o entendido, experimentava e decretava finalmente:
-É! Misturaram alguma coisa que não é branca, mas é!
-Isso é pó de traque! Nem pó Royal é, que não é branco.
-Tô dizendo, véio! É. Pode cortar um pedaço da minha língua que nem sinto. Ta garantido!
-Então tá. Ta valendo.
-Coloca aí, mano, que tô me borrando.
-AAAAAAAAAAA.....
-Cuidado!! Não faça isto!
-AAAAAAAAAAA....
-Segura! Segura!
-AAAAAAAAAATCHEEEIM!
E a mano véio só não foi linchado porque houve uma disputa tresloucada pela porta do banheiro enquanto o pó de traque se espalhava pelo ar.

(história verídica)

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