sábado, setembro 24, 2005

Meninos...

Meninos cruéis têm mães doces, meigas e infinitamente pacientes. Enquanto eles torcem a cachorrinha como roupa molhada, elas falam do último corte de cabelo. Com um olho eu sigo o pestinha com o outro presto atenção na mãe, até tento sorrir. Um frio me sobe pela espinha. Um espreme o gato atrás da porta, o outro se esgoela porque a mãe, num instante de bom senso, não permite que ele suba no teclado do computador. No meio da gritaria ela continua conversando como se o mundo fosse uma igreja vazia. Eu sinto que a minha testa está franzida e que a minha voz vai aumentando de volume. Vai passar, vai passar, penso, buscando a minha parte zen que ameaça bater em retirada.
-Toma! Brinca com o mouse! - Esta sou eu em desespero, tentando acalmar o pequeno delinqüente. Não me venham com esta história de inocente, aquilo é um meliante em miniatura, um demônio da Tanzânia, uma peste que assola a minha casa cada vez que entra pela porta. Um Bin Laden em rascunho!
-Chegou! Chegou a redenção de Herodes!
-Ái, meu Deus! Esconde os gatos, os cachorros!
-Enfia tudo no guarda roupa e guarda a chave!
Quando, enfim, eles ameaçam ir embora, envergonhada eu vejo que já abri a porta cheia de sorrisos, quase empurrando carinhosamente os dois desastres porta afora.
Os gatos desapareceram, os cães encolhidos, com olhos estatelados me olham com horror. Apalpo um e outro para ver se as costelas ainda estão no lugar.
Pego o mouse no quintal, jogo fora três maçãs mordidas, escorrego numa casca de banana, me estatelo no chão, feliz enfim! A felicidade, às vezes, é o avesso.

Nenhum comentário: