sábado, agosto 20, 2005

OS SANTOS DO PLENÁRIO

Há um outro lado na questão que me atordoa, quase me enternece. Taí vocês podem dizer que sou louca varrida, ou ingenuamente burra, ou, quem sabe, uma anta mesmo. Pode ser. Não tenho argumentos contra. Muito pelo contrá¡rio. Não me meto a dar opinião polí­tica ou moral sobre o caso, mesmo porque não tenho opinião. Moral eu tenho, pelo menos o necessário para não ocupar uma daquelas cadeiras. Nem as de cima nem as de baixo se é que me entendem. Entretanto, tenho sim, uma opinião de serumana ( adorei esta palavra usada muito pela Cora e outros seres inteligentes). Não estou muito interessada nas críticas e ênfases sobre os pobre coitados colocados na cadeira de réus. Estou tentada a emitir uma opinião sobre os serezumanos, aqueles homens com olhos nariz, orelhas, bocas, alergias, coceiras no sovaco, pé de atleta, essas coisas que fazem alguém ser alguém. Tá certo que alguns deles são apenas polí­ticos, como o Zé Dirceu, para dar um exemplo extremo. É o que mais me comove. O Zé não é um ser polí­tico. Não chega a ser um serumano. Alguém que desde menino viveu por uma causa. Não penso no Zé ministro. Penso no Zé adolescente, cheio de ideais socialistas. Nenhum adolescente idealista pode ser chamado de hipócrita. Pode ser chamado de burro, por adultos já¡ sem ideal nenhum. Hipócrita nunca. Quem foi adolescente sabe disto. Quem ainda é tem certeza. Então. Lembre-se de alguma parte de sua juventude em que você aprendeu alguma coisa que nunca se desfez. É neste perí­odo conturbado que se constrói tudo que faz de alguém alguma coisa diferente de outra. A adolescência tem um cimento fresco onde se colocam os mastros, e no alto as bandeiras, que a gente vê à distancia. Quando os anos e a vida já desfocaram nossos olhos e nossas certezas, elas ficam lá , impávidas e certas, para nos lembrar de quem somos. Para alguns, de quem fomos. O Zé tem a sua bandeira. Quando no discurso que fez na sua reentrada na câmara, uma frase me deu a certeza de que ali estava o menino com sua bandeira: “tudo o que fiz foi para que o presidente Lula governasse”. Acredito. Até achei que ele confessava com uma certa candura. Depois, é claro, entrou no jogo. Por isto podem me chamar de ingênua e até de anta. Continuo acreditando. Se era justo assaltar bancos, sequestrar, roubar por uma causa, porque seria diferente cometer delitos agora, no poder? Só uma lobotomia para tirar da cabeça de um stalinista como o Zé, que a moral vigente deve ser respeitada. Claro que para ele, tudo o que fez está amplamente justificado. É deste lado que vejo o Zé, e me dá pena. Como vai sobrevier um ser polí­tico sem a polí­tica? Toda uma vida dedicada à uma causa, - se justa ou não , não vem ao caso, não é isso que discuto. É a frustração de um homem que todos julgam e condenam, mas que ele próprio sabe sem culpa e vai levar esta bandeira até o seu ultimo dia. As bandeiras da moral levantadas no plenário me fazem rir. Estas são bandeiras de adultos certos e precisos nos seus desejos, não em suas causas. E o que me irrita nas CPIs é exatamente a empolada e empolgada argumentação dos santos e impolutos homens de moral ilibada. Vão se catar! Dez minutos para cada um aparecer na mídia e fazer o seu discurso. E como brigam por alguns segundos a mais! E as caras de virgens desoladas, e as expressões pouco inteligentes, acusadoras, alguns até violentamente indignados, me dando a certeza de que sou mesmo extremamente burra, de que somos todos absolutamente ingênuos, que isto tudo é novo, noví­ssimo, só porque, agora, abriram a caixa de gordura do governo. Alguém aí tem dúvida de que isso é a polí­tica, sempre foi e sempre será¡? Alguns mais ou outros menos, mas é assim que é. Tudo é elástico no poder, mas às vezes arrebenta. Arrebentou, infelizmente, talvez porque os lá de cima ainda não têm a argúcia própria das raposas velhas. E um ideal vai pelo ralo da moral. Fica a borra da hipocrisia, esta sim, companheira inseparável que não trai, nunca traiu quem dela faz uso. Tenho dito.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gente, Teruska, até entendo você. Também pensei nesses caras do campo majoritário quando adolescentes, cheios de idealismo. Também fui assim, não cheguei a ir pra guerrilha, mas acreditei muito em tudo que eles acreditaram. Mas adolescente cresce e acaba aderindo à tal hipocrisia, isso acontece, eu acho. Ninguém é santo nem incapaz de uma canalhice. A ocasião muitas vezes faz mesmo o ladrão. O que não se consegue é aceitar isso como normal e achar que pode ficar assim mesmo. Lei tem que ser cumprida, não inventaram ainda outro jeito de manter as coisas em ordem. Lei é cheia de furos e erros, mal utilizada, mal formulada, mas se não vale pra arrumar as coisas na vida pública, serve pra quê? É uma opinião, mas não vejo outra saída senão botar todo mundo em cana. Embora duvide que isso vá mesmo acontecer... Beijo. Adelaide
www.meublog.net/adelaideamorim

Anônimo disse...

Tê, o template tá lindo.Agora só falta atualizar pra nóis...
bjs.