segunda-feira, agosto 23, 2004

EU SOU RID�CULA!


Estou morrendo de medo de ser ridícula. Há várias noites não durmo, só tentando encontrar um jeito de não ser ridícula. Ao mesmo tempo tenho certeza de que sou ridícula. Mas não quero ser. Depois de uma dessas noites cheia de suores e pesadelos – o pior deles foi um em que eu descia uma ruazinha de Lyon que é onde eu queria mesmo morar, com um chapéu tão grande que Ana Karenina teve que se abaixar para me dizer bonsoir, e eu lhe perguntei ridiculamente o que ela estava fazendo numa rua de Lyon, e ela me respondeu que não era uma rua de Lyon, aquilo era uma rua de Berlim. Acordei gritando alguma coisa como “quero o meu passaporte!� e decidi parar com aquilo. Resolvi que jamais ia ser ridícula nem que isso me custasse me enfiar num mosteiro de freiras carmelitas descalças. Mudei meus ridículos hábitos, embora eu não saiba exatamente o que são hábitos ridículos. Aliás, nem sei mesmo o que é ser ridícula, mas calculo que não seja uma coisa muito boa de ser. Fui atrás do Aurélio porque não estou aqui para ser ou deixar de ser alguma coisa que nem sei mesmo o que é.

Ridículo. [do lat. Ridiculu] Adj. 1. Que provoca riso ou escárnio; grotesco. 2. Diz-se de pessoa, atitude ou circunstancia que se torna visível por levar ao exagero aquilo que é natural ou apropriado a determinada condição. 3. V. Cômico.

Tem mais, mas chega. Agora que sei o que é ser ridícula na verdadeira acepção da palavra, e estou horrorizada. Sou mesmo ridícula. O meu olho é ridículo. A minha boca é ridícula, meu cabelo é mais ridículo ainda. Sou tão ridícula que quando saio, há um bando de gente sensata, discreta e feliz esperando na porta para rir da minha cara e da papoula amarela do meu chapéu.
Já tentei tirar o chapéu, mas a papoula amarela continua me perseguindo. Pensei em me matar, mas achei que seria ridículo. Pensei até em parar de sair de casa e aí eu seria uma ridícula doméstica, o que não seria de todo mal. Mas o que seria das pessoas lá fora, aquelas sensatas e sérias sem a minha ridícula face exposta? Como iam sobreviver sem o objeto de comparação? Como iam saber que são perfeitas?
Aí vem uma idéia sensata na minha ridícula cabeça: - está te incomodando o fato de alguém que você não conhece achar que você é ridícula?
-Não. Não está. Mas escrevi um post!

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