terça-feira, fevereiro 17, 2004

A INVENÇÃO DO CARNAVAL (By J. Stapafúrdio Soares- presidente e único membro da ABEI – Associação Brasileira de Estórias Infundadas)
Não sei se já postei esta estória aqui. Se já, rasgue e jogue fora. E me perdoe a inércia.

Dizem as más línguas que quem inventou o Carnaval não foi Deus nem o Diabo, mesmo porque o carnaval já existia muito antes do Diabo existir. E, cá pra nós, Deus não iria inventar alguma coisa que fizesse o Diabo se divertir tanto. Há uma teoria que afirma ter o carnaval a mesma origem da fofoca, ou seja, surgiu do nada e foi crescendo, crescendo, até assolar o mundo inteiro. Outra teoria que tenta explicar tanto a fofoca quanto o carnaval, afirma que, se existem é porque começou em algum lugar e há sempre um culpado, mesmo que ostente a cara mais inocente deste mundo e negue até a morte.

Se você pensa que o carnaval é uma festa tipicamente brasileira, e que só pode ter começado na Bahia, ledo engano. Sem poder precisar o ano exato posso afirmar quase com certeza que o carnaval começou num país do norte, e o primeiro samba enredo foi cantado em inglês, com forte sotaque americano. Era um reino próspero e cheio de princípios morais. Havia até pena de morte para quem prevaricasse e quem falasse um palavrão ( destes que rolam soltos por aí) era condenado à prisão perpétua sem dó nem piedade. As mulheres eram virtuosas e os varões coravam ao menor sinal de despudor.

Viviam assim felizes e impolutos, até que, num dia de fevereiro de um ano qualquer, ouviu-se ao longe um estranho rumor, a princípio abafado, mas muito contagiante. Parecia que mil latas de óleo de fritar hambúrguer rolavam morro abaixo. Mas havia um ritmo na coisa. Era o bloco das Antas Desgovernadas descendo o morro e invadindo a Royal Avenue, com seus tabaques, pandeiros, cuícas e mulatas com penachos na cabeça e nada no corpo. O reino enlouqueceu.

O Rei ainda tentou enforcar um ou outro folião despudorado mas o carrasco caiu no samba com capuz e tudo. Essa foi a primeira fantasia esdrúxula da história. A outra foi a do rei que até hoje faz muito sucesso. Vocês podem argumentar: - “Mas de onde surgiu o bloco das Antas Desgovernadas?� Ninguém sabe e ninguém quis saber. Que nem a fofoca. Sabe-se, outrossim, que depois de três dias de farra o reino voltou ao normal como se nada tivesse acontecido. Ninguém comentava, sequer, os horrores cometidos em nome da alegria.
-Rau ariu, mister!
-Helô, mai frendi!
-God seive América!
Cumprimentavam-se cordialmente na manhã da Quarta feira de cinzas, todos muito cheios de moral e pudor embora com uma ressaca dos diabos.

Para evitar a perversão dos costumes o rei extraditou o bloco carnavalesco para um reino do sul, já por si só meio dado a esquisitices, onde a festa se propagou rapidamente. Só que na Quarta feira de Cinzas ninguém parava de comentar e alardear o que tinha feito no carnaval, porque estranhamente, esse reino não só não se envergonhava da farra como tinha até orgulho dela. Sabe porque? Porque não existe pecado abaixo do Equador.

Nenhum comentário: