terça-feira, agosto 10, 2004

UM DIA IGUAL AOS OUTROS E UMA PEQUENA DIFERENÇA

Num dia qualquer você acorda, começa a viver o seu dia como os mesmo milhões de dias que já viveu, atende o telefone com má vontade e acontece. A vida te dá uma bofetada. Aprende de uma vez que você não tem o controle de nada. Você se sente traído. Mas traído por quem?
_ Sabe aquele exame que P. fez? Pois é. É câncer.

Você para o que estava fazendo, pensa no que pode dizer e não encontra nada. Nada mais tem importância. Nem o sol, nem o frio, nem encontrar o erro no html, nem o a sua irritação, nada. Tudo ficou reduzido a uma certeza: nada tem importância se um dia qualquer você recebe uma sentença e um script do que vai ter que viver daí pra frente. Você pensa nas pessoas que estão intimamente envolvidas, na sua própria inépcia, na sua impotência, e no desejo de voltar um dia e ficar nele, com suas pequenas misérias, pregar todos os ponteiros de todos os relógios, para que tudo fique cotidiano, imutável. Você já conhece este roteiro. Até a pequena fagulha de esperança:

- Não pode ter havido algum engano?
Não. Não pode. Tão banal, tão banal. Porque é que a gente não se acostuma?
Eu sei que isto não é necessariamente uma sentença de morte. Mas pode ser. É o momento em que você sabe que já nasceu condenado. Porque é tão difícil viver como se fosse mortal?

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