segunda-feira, julho 19, 2004

O DIREITO DE CADA UM
 
Lá na Leila, há algum tempo, havia dois textos: um pedindo o direito de continuar na situação pré feminista , o outro, retrucando, reavivando a glória  dos direitos conquistados depois de grande luta, etc e tal. Todas as discussões feministas não fazem sentido. Nem as machistas. Tudo é farinha do mesmo saco. Não há razão para reivindicar direitos a não ser que não existam de fato e ... de direito. Universalmente aceito é que cada indivíduo, independente de ter nascido homem ou mulher ou outra coisa, é o único dono de sua vida e pode fazer dela o que quiser. Desde muito pequenininha eu sabia que era mulher e que isto não me colocava em desvantagem. Me colocava ao lado. As atribuições que teria ao longo da vida, decidi com o correr do tempo. O que me levou a decidir por  isto e não aquilo não vem ao caso. Estamos num contexto histórico por  azar ou sorte,  - vai depender de cada um – onde a nossa vida corresponde a um padrão de comportamento.  Se eu saio dele, deste padrão, poderei passar por  rebelde ou retrograda. Como em todos os tempos. Mas é uma decisão individual. A liberdade é individual. “Eu me escolho a mim  mesmoâ€� e isto não é, de maneira nenhuma, uma escolha porque nasci mulher.

Não há nada que me obrigue a nada que não esteja pré - determinado por  lei e por  lei escrita e aprovada.  E a nenhum ser humano. Desde que não infrinja os códigos, você pode fazer tudo o que quiser. Mesmo os códigos morais, os que não estão escritos em lugar nenhum e que não prevêem pena, você pode infringir. Desde que escolha. É claro que você terá que pagar por  isto, como por  tudo. É problema seu.
 
Uma mulher do século dezenove não podia ir sozinha a um bar. Mas tinha o direito de ir. Podia escolher entre ir ou não ir. Não estava escrito em lugar nenhum que ela seria apedrejada se fizesse isso. A maioria não ia. Achava normal não ir. Não doía nada. Ela nasceu num ambiente histórico onde mulheres não iam sozinhas a bares. Mas também não havia homem que usasse brincos ou depilasse os pelos do corpo. Como e porque as coisas mudaram? Pelo mesmo motivo que o homem parou de andar de quatro. Naturalmente.
 
É preciso um tempo próprio para que as coisas aconteçam de uma maneira e não de outra. Todas as revoluções aconteceram dentro de um contexto histórico determinado. Não há culpa nem desculpa por  um fato que aconteceria mais dia menos dia. É claro que todas envolveram ações. Mas todas as ações resultaram de um lento e gradual amadurecimento histórico. O homem é levado pela mão da história e não o contrário. Quando olha em volta, ele já está ali e pensa que foi parar ali porque assim decidiu. Ele já estava ali, de qualquer maneira. A sua ação se limita a acompanhar. O início, onde tudo começou, ele não sabe. Às vezes pensa que sabe.
 
O pêndulo da história é a metáfora mais bonita e perfeita que me ensinaram. Ninguém me explicou porquê, como funciona, mas funciona. O desconforto, a nostalgia, e vontade de ficar em casa, de não ter obrigação que não seja a de administrar o lar doce lar , tem sido comum a muitas mulheres neste início de século. O pêndulo está voltando. De qualquer maneira, dentro deste contexto, se pudesse escolher, nasceria mulher outra vez.. Pelo menos, no pior dos casos, posso escolher o que fazer da minha vida, inclusive ficar em casa, em ser apelidada de vagabunda. Nenhum homem pode fazer esta escolha impunemente.

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