domingo, março 28, 2004

UM "BOUQUET DE SOLEIS" ...
Aniversário para mim é melhor que Natal, Ano Novo, Carnaval. Desde pequena tenho a impressão de que este dia é meu, que tenho todos os direitos, que posso não fazer as coisas que, por obrigação, tenho que fazer nos outros dias do ano. Quase me sinto livre. Meio infantil? Ainda sou meio infantil. “Você não passa de uma menina. A mais menina de todas as mulheres que conheci�. Foi Kafka quem disse isto, não para mim , é claro, mas na hora foi como se fosse. Pretensiosa? Fui. Tantas vezes fui!

Um dia em que todas as pessoas que me amam vão se lembrar de que me amam e me dizer isto. A maioria diz, outras se esquecem. Hoje mais freqüentemente que antes. É que se passaram muitos anos desde então.
-É hoje, o seu aniversário?
Esta pergunta me foi feita ontem. Não era o meu aniversário. Olhei-o com raiva.
-O mínimo que você pode fazer por alguém é se lembrar do dia do seu aniversário.

Virei as costas e fui abrir a caixa que acabara de receber. Uma caixa colorida e com um laço dourado. Dentro da caixa tinha Kafka, Kafka! E “Les paraplues d’amour�! O filme que me fez desejar me casar grávida, vestida de noiva, quando eu ainda acreditava em quase tudo. E, o melhor de tudo, o que me deu a certeza absoluta da delicadeza dos sentimentos de quem me mandara aquela caixa de surpresas: Angélika! Não a que eu li na minha adolescência, mas a extrema e delicada intenção de quem procurou nos sebos, o meu desejo. Ela leu num post, num post antigo, a vontade que tinha de reencontrar aquele livro da minha meninice e procurou. Eu ria e chorava, sozinha, cheirando os livros, lendo o cartão. “Um bouquet de soleils para você...�

Ah! Tereza! Perdoe-me tornar pública a sua delicadeza. Nem sei se me perdoará por isto, mas é assim que sei dizer o quanto me fez feliz num dia que poderia ser igual aos outros, tão igual que no fim dele, eu talvez chorasse de saudade de outros aniversários.

*********
apideite: escolhi esta foto acima para colocar junto com o cartão da Tê, porque é de um dos dias em que me lembro de estar particularmente feliz. Foi há 5 anos. A Consul, o Paulo e eu.