quinta-feira, março 25, 2004

IMPRESSÃO FESTIVA,(e irresponsável) NADA INTELECTUAL, SOBRE O GOLPE DE 64

Foto histórica - o indicado com a seta é o meu namorado, depois marido, numa correria na Av. Afonso Pena, daquelas que dispersavam uma passeata.
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É insuportável ouvir jornalistas com menos de 40 anos falar sobre 64. E historiadores também. O que houve no Brasil em março de 64 foi um cochicho de bastidores que deu no que deu. Revolução foi a que não houve, a que foi preparada por um bando de meninos e intelectuais. O resto, o que interessava, o povo, continuava a sua vidinha sem querer saber de nada e nem se importava. As pessoas olhavam das janelas dos apartamentos e jogavam papel picado sobre as passeatas. Ou água. Ou tomates. Se não abriam as janelas não viam nada, e continuavam a descascar batatas. O que mais impressiona é terrível desproporção entre os atos da esquerda e a retaliação dos militares. Não dá para entender. Se, durante os atos rebeldes, sobretudo dos universitários, incitados por coalizões que a maioria sequer conhecia e nunca aparecia, não houvesse reação, os meninos voltariam para casa, para as escolas e tudo continuaria do mesmo jeito. Quem estava lá sabia. Não haveria nada para fazer, se não houvesse perseguição. Era só deixar a banda passar, alegremente. Mas não. A ditadura parecia mais inflada de vaidade do que de poder. A inteligência parecia ter escapado pelos vãos da vaidade, o que não é de se estranhar. Era um bando de loucos, desvairados, fanáticos, procurando comunistas debaixo das camas. E encontrando! Um surto esquizofrênico que seria engraçado não tivesse conseqüências trágicas.

Aquelas mulheres de rosário na mão, teatro mambembe de intenções grotescas, quem não sabe disso? Jango, com suas reformas, certinho, enfraquecido, mas não fraco, sobre um rojão histórico, conclamando o congresso, quem não sabe disso? Um grito lá no fundo de “fecha�, só um grito. Estava tudo estava preparado. Nada mudaria o curso da história naquele momento. O pêndulo estava para a direita, totalmente para a direita. O que se seguiu foi um desvario do poder. Enquanto tudo acontecia, o povo continuava a sua vida, pateticamente desinformado, e quer saber? Não se importava. A massa é uma abstração intelectual da esquerda. O que existe são indivíduos. Muitas famílias só souberam do que estava vivendo o país quando seus filhos não voltavam da escola. E a grande maioria, os mártires da revolução que não houve, sofreu as conseqüências de não saber porque estava ali. Eram só meninos e a maioria se divertindo. Não se iludam pois. Os grandes imbecis da ditadura criaram o cenário mais grotesco da mas perfeita fanfarronice. Não precisava tanto. Não era absolutamente necessário sujar o palco de sangue. Ditadores são, antes de tudo, burros. Só pode. Não há outra explicação. O poder não estava ameaçado. Nunca esteve realmente. Não há na história, fato algum que comprove seriamente isto. Podiam ter saído limpos da história.

E agora, um governo, o primeiro declaradamente engajado na “luta�, o governo do Lula, o da estrela vermelha que coloriu as lapelas dos rebeldes, passa desapercebido por um momento histórico. Era dele a obrigação de abrir os porões da ditadura e desvendar os olhos dos que não viram. Só em Minas há 90.000 documentos secretos. É dele a obrigação de tornar público os mistérios desse tempo obscuro. Seria dele o compromisso de limpar de vez a história deste período, de expor, de procurar, de redimir. Mas os cães ladram e a caravana passa. O poder, ah! não há nada que mais cause torpor que o poder. É desconcertante.

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