domingo, março 14, 2004

ATÉ QUE DEU CERTO...MAS E DA�?

Dia 13 de março de 2004. Como em todas as manhãs de todos os dias de minha vida nos dois últimos anos, coincidentemente exatos dois anos, ligo o computador, antes de escovar os dentes de manhã. “A página não pode ser exibida�. Passo um rabo de olho para o cabe modem. As duas luzinhas piscando.

-“Merda! Cortaram a minha conexão.�
Ainda tentei desligar e ligar a tomada da força. Costumava dar certo. Nada. Ligo para a operadora, anonimamente:
-Por favor, estão com problemas no sinal?
- Não há nenhuma reclamação neste sentido, senhora.
- Merda! Cortaram mesmo a minha conexão.
- Como? Pode repetir, senhora? Não consigo ouvi-la.
- Não, não. Só estava resmungando. Obrigada.
- A Fulana agradece a ligação e lhe ...
- -Clic.

Resignada, meigamente resignada, sem nenhum sinal de desespero, revolta, essas coisas que costumam assolar as pessoas diante de uma adversidade, fui escovar os dentes. A minha cara no espelho era a de Santa Maria Gorethi, a Virgem. Isso não!
-Alguém aí tem um modem pra emprestar? – Gritei com a boca cheia de espuma. Ninguém respondeu. Gente dormindo não escuta. Olhei no espelho. Estava voltando ao normal. Acordei o Victor:

-Você tem um modem para me emprestar?
Ele abriu com dificuldade um olho, esticou os braços e balançou a cabeça. “não...� É típico dele. Um não é tudo. Parti para o Marcelo.
-Tem um modem pra emprestar?
-Um o quê? – É típico dele.
-Um mo-dem! Aquele negócio que faz a conexão com a internet!
-Porquê?
- Porque cortaram a minha conexão e eu vou me conectar nem que seja com o orelhão da esquina.
-Mãe! Isso é crime! – Também é típico dele.
-Tá. E vinte contos, você tem?
-Praquê?
-Pra juntar com os vinte que tenho e comprar um modem.

Não tinha. E já eram oito e trinta. Sábado. Só havia alguém que me poderia emprestar os vinte contos. Não tinha coragem.
-Vai lá, mãe. Coragem.
-Não. Ele vai me olhar com aquela cara e antes que eu acabe de falar já disse não. E eu vou chorar, e vou ficar chorando o resto do dia. Posso muito bem ficar sem internet. Tanta gente vive sem isto. Alem do mais, a conta do telefone...não. É melhor não. Posso tirar prazer de outra coisa.

-Do que, por exemplo?
-Vou por a faxina em dia. E passar aquele monte de roupas. E lustrar as maçanetas!
Foi aí que eu me decidi. Ele lia o jornal. Como uma Anita Garibaldi, parei diante dele, decidida:
-Congela esta cara aí. Vou te fazer uma pergunta. Se a resposta for sim, diga sim. Se for não diga não.
Ele começou a balançar a cabeça negativamente e parou. Suspeito que alguma coisa na minha cara o fez mudar de idéia. Tenho que decorar esta cara, mas não me lembro qual foi. E ele me emprestou os vinte contos, sem cara nenhuma, comprei o modem e estou aqui.
Mas sem aquela sensação de vitória das outras vezes. De tantas vezes que consegui me safar de situações parecidas. Apenas cansaço.
Decididamente alguma coisa está perdida. E não é a minha conexão via cabo.

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