sexta-feira, dezembro 04, 2009

O tempo é uma máquina de fazer monstros (sic)

Fico pensando o que alguém quer dizer quando, depois de uns 10 anos, te encontra subitamente. “Você não mudou nada!” Naturalmente ela vasculhou todos os pontos onde eu possa realmente ter mudado: nos cantos dos olhos, em volta da boca, no abdômen. E, é claro que encontrou. Morro de medo deste “você não mudou nada”. É constrangedor. Fico sem saber o que dizer, mas diante da dúvida sou rápida: “não mudei. Só envelheci.” E rio largo para deixar claro que é verdade e que não tenho medo do que ela possa estar pensando verdadeiramente.

Tem gente que cristaliza sua própria imagem num tempo e acredita nela. Vê o que quer ver. Ou não vê o que não quer ver. Que o tempo é implacável, depois de um tempo. E que tem que se vestir de novo, com roupa nova. De preferência com um tailler comportado. Ninguém envelhece delicadamente. Num dia qualquer você acorda velha e não encontra roupa que lhe sirva. Olha no espelho e, se não vê nada tão evidente assim, ainda há a sombra no olhar, aquela marca inconfundível de quem sofreu tudo ou quase tudo. Nem todo o botox do mundo pode tirar esta marca.
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Crise existencial é uma expressão muito antiga. Deve estar fora de moda, como melancolia, ginasial e científico.Deve ter outra para designar este estado de paralisia diante do óbvio que não serve mais para nada. Mas não sei qual é. Sou meio ultrapassada. Conservadora. Outra palavra bem fora de moda. Sei que é chato. É extremamente chato acordar um dia com a percepção enviesada de que a tudo que você viveu foi de alguma maneira catalogado num almanaque como “adivinhe o que é”. E com todas as respostas erradas. Ou quase todas.
Eu só queria arranjar um jeito de ficar na cama o dia inteiro vendo os seriados da Sony sem me sentir culpada. E que fosse tudo dublado para não ter que fazer o esforço de ler. Saco.

2 comentários:

Cris Carriconde disse...

entendo muito bem esse teu sentimento
e agora ainda sou vítima de comentários do tipo, via Internet. Nunca que pensei que ia encontrar minhas colegas de colégio. Aqui também não deixa de ser uma maneira de envelhecer publicamente. Nâo é lá muito bom mas...

E eu aqui tentando pegar no tranco
nessa segunda e com a mesma tua vontade de ficar na cama vendo filmes.
Foi bom ver essa atualização e vir dar uma conversada. Confesso isso e vou :)

Saudade
Beijo

tereza disse...

"Ninguém envelhece delicadamente".
É verdade.
Não me sentiria culpada de ficar o dia inteiro vendo seriados da Sony.
Acontece que enjoei de TV. De internet também, mas ainda ligo o computador.
Crise existencial está fora de moda.
A moda agora é olhar para o espelho e ignorar o que você está vendo.Ignore os seus sentimentos e sorria para você mesma.
Gostei do seu texto.Bem longe de autoajuda (com ou sem hífem).
Uma das frases mais ridículas que conheço é "você não mudou nada".
Dá vontade de rir muito de um jeito cínico na cara de quem diz.