segunda-feira, janeiro 15, 2007

Dia Seguinte...


Meu pai tinha uma fazenda no interior de Minas, bem perto da cidade onde vivíamos que em pouco ou nada diferia de qualquer cidade do interior do século passado. (Nunca antes me senti tão á vontade ao me referir a qualquer acontecimento do século vinte como do século passado!) Bem, passávamos as férias escolares sempre na fazenda que, para nós, meninos, era o próprio éden sem o pecado original. Nos misturávamos aos filhos dos colonos e por isso terminamos por conhecer um pouco da vida e dos sentimentos daquela gente tão diferente de nós. Uma das características que mais me assombrava, era o que, na época, eu chamava de frieza. O homem da família desaparecia por dez anos e um dia surgia na estrada, sem mala ou bagagem, de volta. A mulher e os filhos apoiavam-se na porta, os cantos da boca levantados num quase sorriso, e estendiam a mão para o que chegava, mal se tocavam e não se olhavam nos olhos, murmuravam um cumprimento, e sem falar, a mulher colocava uma caneca de café nas mãos do homem, único gesto de boas vindas. Nem um abraço, nem uma exclamação, como se aquele homem nunca tivesse se afastado mais que dois metros. E a vida continuava como sempre, sem perguntas e sem respostas. Diante da morte, ninguém chorava ostensivamente, era natural como alguém que partisse um dia para procurar trabalho. E a vida continuava no dia seguinte e a partir daí se referiam ao morto como “finado”.

Tudo isto para dizer que, como um colono do interior de Minas, estou voltando sem saber ao certo por que e que desta minha viagem ao exterior de mim mesma não trago explicações. Só vontade de que tudo volte a ser como sempre foi. Um dia seguinte igual a qualquer outro. Café?...

4 comentários:

Bion disse...

Oi Tê!
Que bom ter vc de volta! Ops... Era para fazer de conta que vc nunca se ausentou né?
Bjs

Anônimo disse...

Aceito,Tê! Trouxe umas brevidades, eu mesma fiz:)
Beijos.

Teruska disse...

Ôi, Marcelo...
puxa vida! È isso!:)) Beijos.

Ôi, Tê...
Brevidades que cê mesma fez???? Pois sim! hauahauahah!

Anônimo disse...

Tê, Brevidades virtuais eu sei fazer:)
Beijos.
Tereza.