domingo, julho 02, 2006

OUTRA VEZ!


Brasileiro, sim!
Fico pensando aqui com meus botões: o que teria mudado na minha vida se o Brasil fosse hexa - campeão? Iria conseguir comprar o Porche dos meus sonhos? Seria convidada para escrever uma coluna na Folha de São Paulo? Conseguiria pagar em dia a minha conta telefônica? Meu nome sairia do SPC, escrito em néon nas brancas páginas dos clientes especiais? Os juros do meu cheque especial baixariam para 2% ao mês? Conseguiria passar um mês inteiro sem entrar nele? ( No cheque especial que de especial só tem os juros).Certamente não. Não para todos os quesitos, entretanto me sinto lesada, como se me tivessem tirado a sobremesa, como se, de repente, nunca mais, em tempo algum, eu pudesse esperar por uma coluna na Folha – podia ser no Globo também.
Pela primeira vez nestes últimos trinta dias eu me sinto ridículo vestido de verde e amarelo, como um papagaio bêbado. Palhaço que fui fantasiada de brasileiro como se necessário fosse. Está na minha cara, no meu jeito, até no meu sotaque e, sobretudo, no meu bolso, que sou brasileira. Não passaria despercebido nem em Jacutinga, muita menos na Alemanha. Porque então tive que me fantasiar de brasileiro? Porque de repente meu sangue ficou verde e amarelo e porque eu o derramaria como se fosse água, cheio de ufanismo e galhardia pela pátria amada Brasil, se necessário fosse? Porque este desconforto agora, como se tivesse sido despedido do meu emprego, como se me tivessem negado atendimento no SUS, como se fosse noite de domingo? O que vou fazer com a minha fantasia de brasileiro sem contas atrasadas, sem seca, sem desemprego, sem violência, sem diferenças de classe?
Visto uma camisa qualquer, sem cor, numa manhã de domingo igual a todas as manhãs, só porque não sou hexa - campeão. Brasileiro sim, sem fantasia, em pelo, nu, anônimo e só. Poderia ser javanês, polonês ou turco. Que diferença faz?
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Esta foi a matéria de capa co Com Senso em Julho de 1998. Que diferença faz?:(