quarta-feira, abril 12, 2006

Para uma amiga


A morte é terna, amiga. É sopro que alivia a dor eterna. Dói em ti, mas não dói nele. Isso não te alivia? Limpa a tua alma da dor, como quem lava um chão de muito tempo. Perfuma os cantos da sala com a saudade que é mansa e que é boa, fecha o livro neste capítulo que a todos perturba - mais por hábito que por verdade - chora por ti, mas não por ele. Tanta vida, tanta vida! Não há sofrimento sem matéria que a suporte. Não há dor na morte, senão a que a tua própria opinião força. A agonia é da vida – bem sabes disso – e não da morte. A morte é doce, amiga, como um final de peça, como o cair do pano, como o fechar da porta. É depor as armas, é o final da luta, é o tratado de paz.
A razão diz, mas o coração teima. Que seja. Não cedas ao canto de sereia
da saudade. Deixa que a dor por si só se iluda e, se sentires a tentação do luto, lembra-te: ele hasteou a bandeira branca, enfim.

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