domingo, junho 06, 2004

O CÓDIGO - UMA CR�TICA NADA LITER�RIA (quem sou eu!)

Passei o dia/tarde de ontem terminando de ler o Código da Vinci e tentando bater meu próprio recorde. Me esqueci de quantas páginas leio por hora. Já fiz as contas, sim. É que no meio do livro percebi que estava perdendo o meu tempo. Podia ter pego um velho e batido James Bond na locadora. Me divertiria do mesmo jeito e em menos tempo.

Dos senões:

1º) O livro é muito grosso e pesado. Grosso no sentido “largura�, volume de páginas, e pesado no sentido “medida por quilograma�. Procurei um apoio que não fosse as minhas delicadas mãos e não encontrei. Tive que suportar o peso daquele tijolo vermelho por cinco horas seguidas. São 475 páginas! Nenhum livro deveria passar de 300 páginas, na minha besta opinião. A maioria deveria ter no máximo 150 páginas o que daria para completar a leitura em quatro horas, com um breve intervalo para um café. Folgado. E não provocaria tendinite.

2º) Um livro de 500 páginas, e um livro com características absorventes – no sentido de absorver os sentidos, e não o outro, pelamordideus! – chega a ser surrealista de tão absurdo,se não for um Dostoievski. Não o tema do livro, não questiono isto. Imagine que você lê 50 páginas por hora. São 10 horas de leitura sem sair do lugar, sem piscar, sem fazer xixi, sem comer. Tempo demais para qualquer pessoa normal ficar sem fazer nada do que realmente importa. “Mas você pode parar, ler depois, ler aos poucos�. Mas nunca! Não depois de saber que o maior segredo da humanidade, guardado a sete chaves, na verdade é só uma chave, está para ser revelado nas últimas páginas. Eu fico. Você fica. Todo mundo fica. E o tal de Dan Brown sabe disso. Podia ter sido mais generoso. Trezentas páginas seria misericórdia. Suspeito que o homem seja sádico.

3º) “Dez milhões de livros vendidos em todo o mundo� não quer dizer dez milhões de leitores em todo o mundo. Não pode. Nem todo leitor – estou dizendo leitor, gente que lê porque sim – tem tempo para ficar 10 horas seguidas pregadas num livro. Tá, ele lê um pouco a cada dia. Impossível. Se você parar, não volta. É como ver um filme aos pedaços. Perde a graça. Perde o fio da meada. Prefere fazer outra coisa.

4º) A técnica é boa, o homem sabe muito bem envolver, mas o estilo... o estilo tem aquela maldita corrida americana pelos clichês, a piadinha idiota nos diálogos enquanto o protagonista vê a vó pela greta, e coisas do tipo “ele saiu com o rabo entre as pernas, como um cachorro enxotado�, “pavor horroroso� e aquela imbecil tese da origem das palavras que querem dizer uma coisa e não outra. Não me expressei bem... peraí... é aquela coisa de uma palavra estar ligada misteriosamente ao seu conceito, com alguma conotação ambígua do observador, como o santo graal, sangraal, sangue real. Aparece muitas vezes no livro, mas não explica em que língua se faz a coisa. Sabe quando você vê uma nuvem e ela tem um formato de alguma coisa? Então. A nuvem se desfaz e a palavra não. Mas o observador vê o que quer ver.

5º) É um romance americano. Como os filmes de Hollywood. Da América para o mundo. Porque eles sabem mesmo vender. E o resto do mundo sabe comprar.

6º) Se você quiser mesmo ver alguma coisa séria a respeito vá até o blog do romance que não descobri assim por acaso, ou por pesquisa. Me foi indicado misericordiosamente e, agradeço, encantada. É, na minha já pública besta e tosca opinião, o melhor blog sobre literatura e crítica literária. Depois você pega um James Bond e revê.

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