MINHA PRIMEIRA MELHOR AMIGA
Ela foi a minha primeira grande amiga. Quando nos conhecemos, tÃnhamos as duas, malfeitos 12 anos. Foi minha companheira inseparável por todos os anos de minha adolescência. A mais meiga, a mais sensÃvel a mais doce de todas as criaturas. Tinha o riso fácil e uns olhos grandes, enormes. Mesmo quando ria, boiava dentro deles uma nata de tristeza. Impenetrável. Nunca tentei desvendar, abrir aquela cortina, porque sabia impossÃvel.
Andávamos à toa nas ruas, com uniforme do colégio, numa manifestação direta e ostensiva contra tudo que não podia. Era pouco. Para nós, bastava. RÃamos muito de tudo e por nada. Juntas, planejamos a vida que seria leve e perfeita. Eu me casaria com o irmão dela e ela com o meu. TerÃamos filhos, naturalmente, e escolhemos previamente os nomes. Um dia, depois de formadas, visitarÃamos a Ã�ustria e encantadas ouvÃamos as histórias que o meu pai contava, à noite, depois do jantar. Aliás, farÃamos muitas coisas depois de formadas.
Naquele ponto em que a vida nos toma o controle, eu a perdi de vista. Há três dias recebi um e-mail da filha dela. Tinha me procurado no Google. Foi uma experiência nova e estranha. Eu reencontrava a minha amiga perdida no tempo e pelo tempo. De quem eu tinha a imagem viva e risonha. Quem fora para mim , o melhor exemplo de amor e alegria reaparecia, sem risos, sem sequer uma imagem, só a certeza de que a vida tinha feito com ela o mesmo que fez comigo. Com uma diferença: eu aprendi a rir. Ela aprendeu a chorar.
Sem saber que isto é banal, banal, fui olhar as fotos que tiramos juntas, ainda meninas. Agora eu sei, definitivamente, o que é envelhecer.
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