quarta-feira, abril 14, 2004

PONTO

Certas coisas me incomodam sobremaneira. Ou me deixam com um gosto esquisito na boca, como quando comia caju e achava doce mas me colocava na garganta um incômodo, um incômodo travo. Um médico, velho, o bastante para ter no olhar aquele azulado de solidão e catarata, num consultório de periferia, com as mãos trêmulas de Parkinson, cobrando dez reais a consulta de clientes que ele arrebanhava na porta do consultório. Me diz, você que entende de esperança: que merda de vida é essa?

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E não é só isso. É essa montanha que eu subo e desço todos os dias sem saber porquê. E as pessoas que encontro pelo caminho, desfiguradas de tempo e dor. Quem pode ser feliz, se vê?

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Ela me disse que matava gatinhos com prazer. Eu lhe disse que a invejava muito. Quem mata gatinhos com prazer pode passar por tudo sem sentir dor. Inclusive viver.

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Vi uma entrevista com a Lia Luft ontem. Ela me parece uma mulher despudoradamente feliz. Fiquei pensando se ela mata gatinhos, mas acho que não. Vou ter que ler alguma coisa dela para descobrir como pode ser feliz, se pensa.

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Quando eu vi Mad Max tive uma intuição: o futuro seria assim, mas não pelos mesmos motivos. Só não esperava que fosse tão rápido. Há menos de dez anos a lua entrava pela minha janela aberta. Hoje ela faz quadrados pelo chão, partida pelas grades como pedaços de queijo. Começo a ficar com medo.

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E saibam todos que a minha conta no Google adSense, em três dias, está com U$12,75!! Eu não preciso matar gatinhos para ser feliz! Eu só preciso de amigos. Uahahahauauaua!

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