DESCONFORTO
O desconforto. A dor. A incerteza. A tristeza. O absurdo. O descompasso.O passo lerdo e incerto de um bêbado de esperanças ou nem tanto. Beber de um só gole ou não beber. Beber devagar como quem tem medo de terminar o vinho, apesar de tudo, azedo, por mal guardado,de boa safra, perdido, como qualquer cachaça sem nome.
Tolice requentar o café que sobrou ou guardar o pão-de-ló para amanhã, já sem sabor. Armazenar o grão para outra colheita como se faz com o amor o a felicidade, azeda e requentada.
Minutos perdidos para sempre além do infortúnio num perplexo anseio pelo futuro que não existe, que tanto promete e nunca cumpre, por falta de circunstancias futuras.
Guardar com dor a fantasia de um passado que nunca se repete, porque o tempo é um novelo já desfiado e tecido e não se encontra o fio da meada, e até a moeda, no poço dos desejos, era falsa, como os juramentos eternos.
E nada se cumpriu como se previa ou devia, porque nada se cumpre, a não ser a morte. Simples e claro como água nascente, mas só se vê bem à distância, poluÃda pelos cadáveres dos bichos que não pensam e que, por isso mesmo, foram mais felizes do que os homens, que se perdem nos cumes das montanhas, infelizes.
A forma do amor é hexagonal, e não se conhece mais que uma faceta ou duas; as outras, como a face oculta da lua, escondem o hediondo ou o perfeito.
E só vai saber delas o astronauta que não tem medo do escuro, nem de longas distâncias jamais percorridas. Esses, são raros como as papoulas, e só nascem de um outro lado do mundo que ninguém conhece, muito menos eu. O resto é tão banal como ratos, lagartas e formigas e parece ter antenas, como as baratas, que coordenam sua direção, sempre a mesma afinal.
O descanso no bueiro fétido é o repouso do guerreiro que se satisfaz com isso e não sabe bem o que é felicidade.
E nem se interessa.
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