domingo, abril 04, 2004

MEU CARO AMIGO

É assim que eu sou, W. Foi nisto que me transformei. Não sei se é agradável um outro modo de vida. Nunca experimentei e não sei se suportaria. Os outros me cansam. Não me diga, como eles, que preciso sair, me envolver, conhecer gente, ter amigos. Foi a minha escolha. Não afirmo que às vezes não tenha desejos de ser diferente. Tenho. Mas passa rápido e continuo sem entender porque estranham o meu comportamento. Eu não estranho o deles.

Você se lembra quando, inocentes, nos perguntávamos porque havia um dia na semana em que todo mundo saia, ia para um boteco, bebia, conversava e voltava para casa de madrugada, certo de que tinha feito o que deveria fazer? E acordava com ressaca na manhã seguinte, certo de não poderia ter feito outra coisa? Quantas vezes fizemos a mesma coisa? Me lembro de uma noite de sexta feira, como robôs programados, você esperava que eu terminasse de escovar os dentes e até me apressava um pouco, como se estivéssemos perdendo tempo. E de repente parou, olhou para nada e perguntou:
- Nós temos mesmo que sair?
-Claro que nós temos que sair! O que vamos fazer se não sairmos?
-Não sei...acho que podíamos ter escolha...
Então eu pensei na minha cama, estava frio, e nada me parecia mais agradável do que estar debaixo das cobertas, talvez fazendo nada. Passou rápido. Eu tinha que sair. Era sexta feira, Você acabou indo, mas eu percebia que alguma coisa tinha mudado.

O que fiz afinal foi isto, W. escolhi ficar debaixo das cobertas. E não estou perdendo nada. Naquela noite, também não teríamos perdido nada.
E não estou certa de que tínhamos escolha.

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