domingo, fevereiro 22, 2004

PURA INVEJA

Não gosto de ir ao blog da Fabriani. Não gosto porque fico muito tempo por lá e morro de inveja. Morro de inveja de um país, onde há hospitais de mais para gente de menos, cadeias que não se chamam cadeias e em cujas celas há uma cama, uma pequena mesa com cadeira e, se ela não se engana, um banheiro na cela. E todos podem ter televisão e livros. Se tratam assim os seus presos, como não serão tratados os cidadãos inocentes e livres?

Depois, ligo a televisão e vejo uma mulher aos prantos porque conseguiu receber a parte que lhe cabe, depois da greve do INSS. Mudo de canal, enjoada, e vejo uma fila de quilômetros porque um supermercado abriu algumas vagas para trabalhos gerais. E na fila havia uma enfermeira recém formada e uma professora formada há mais tempo.

Desligo depois de ver um facínora, desalmado, psicopata, profissão assaltante, dar uma entrevista revoltante e cínica, segundo o apresentador. Os adjetivos também são do apresentador. O facínora tem dezesseis anos e não sabe ler. Articula com dificuldade as palavras. Mãe ele lembra que teve um dia. Pai não. Ora, meus senhores! Desalmada é a sociedade que produz seres humanos com estas qualificações.

Enquanto isso, na Avenida, o bloco das antas desgovernadas, consome a alegria de um ano inteiro, em três luminosos dias. Para tudo se acabar na quarta – feira. Em cinzas.

Isto é, no mínimo, indecente.

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