Havia um reino muito feliz governado por um rei muito letrado e fino. Era muito comum que os reinos fossem governados por reis. O rei desse reino feliz era muito amado pelos súditos, não se sabe bem porque. Tanto era amado que foi reeleito rei. Diz a história que o motivo desta reeleição foi um ditado muito usado na época que dizia: “m... pouca é bobagemâ€�. Porque os súditos andavam atolados até o pescoço na dita cuja, sem nenhum prenúncio de verem o sol raiar no final do túnel. O reino andava um trem de doido! Os súditos andavam muito mal humorados, embora o rei fizesse todas as palhaçadas possÃveis para vê-los rindo. Até o bobo da corte andava muito sem graça, e o rei abrira concurso para contratar um outro, mais bem humorado. Fez-se uma fila descomunal para a inscrição. Pode-se afirmar que todo o reino se candidatou a bobo da corte, mesmo os que não tinham graça nenhuma aspiravam ao cargo, por sinal muito mal remunerado. Qualquer coisa era mais que nada, pensavam, já que emprego não era o que mais se via no reino. Não se sabe que critérios abalizaram a escolha. O certo é que todos passaram no teste e foram contratados. E todo mundo se empenhou vorazmente no trabalho, inventando uma nova piada daqui, um salto mortal dali, piruetas que jamais se viram em outro reino. Havia um tal de salto mortal triplo com queda para a esquerda, que fazia o maior sucesso, dada a sua dificuldade. O reino se tornou up to date em corda bamba, piruetas e saltos.
O rei, feliz por ter conseguido atenuar o desemprego reinante no reino (soou mal?) e por seus súditos estarem aptos e ocupados demais em aprimorar seus conhecimentos, pode refletir sobre a melhor maneira de enfrentar um monstro que ameaçava comer a última rapadura do povo: a Crise. Mas o rei tinha muita confiança em si e em Deus. Aliás, era ele na Terra e Deus no céu, embora tivesse tentado trocar, certa feita, e fazer ele na terra e Deus também. Pensou em nomear Deus para Ministro da Economia, mas o Senhor recusou, porque andava sem experiência no assunto - o último reino falido que tivera que administrar fora há uns bons 2.500 anos - e, nem Ele seria capaz de ajeitar as finanças deste reino. O rei pediu que Deus indicasse alguém, quem sabe S. Jorge? Podia ser mesmo um santo desconhecido, Santo Antão, por exemplo. IrreversÃvel, Deus não teve misericórdia, e o rei se viu obrigado a nomear um tal de Pedro Malheiro, que, diziam as más lÃnguas, era parente muito próximo do Capeta. Malheiro fez o diabo para dar certo.
Não diz a história se deu ou não deu, mas as medidas do tal ministro fizeram os súditos comerem o pão que o Diabo amassou com o rabo, e até os neobobos perderam um pouco da Graça. O monstro invadiu o reino com tal fúria que de norte a sul não se falava em outra coisa. É verdade que o rei nunca acreditou que a Crise existisse de fato, e saber que uns e outros a tinham visto cara a cara, não lhe convencia. Mesmo assim, convocou um outro monstro para dar cabo da Crise: o tenebroso FMI! Boas intenções teve o rei, mas monstros não têm boas intenções. Simpatizaram um com o outro, o FMI pediu ao rei a mão da Crise, que achou por bem aceitar, e a lua de mel dos dois monstros durou uns 20 anos. Tiveram muitos filhos, CPMF, FEF, e outros malignos com seus estranhos e imponentes nomes, que devoraram não só as rapaduras, mas até os coités que as guardavam. Só não viveram felizes para sempre porque a esperança ainda é a última que morre. God save el Rei! Continuavam a bradar os bobos da corte, para não perderem o emprego, que de bobo eles não tinham nada.
(Por J. Stapafúrdio Soares – Presidente e único membro da ABEI – Associação Brasileira de Estórias Infundadas).
Um comentário:
Os meus cumprimentos e parabéns
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