OUTRA VEZ...

Até o espírito de Natal é anunciado pela televisão. Dá um frio na barriga quando aparece a primeira guirlanda. De novo, meu Deus! De novo! Preciso armar a árvore. Há dois anos tento não cumprir esta ordem. Acabo cedendo. Papai Noel pode ficar furioso e não deixar nada no meu sapatinho na janela. Por via das dúvidas...lá vou eu empilhar aquele pinheiro com bolas douradas esperando não sei o quê. Talvez que o destino não se rompa como uma corda esgarçada e me deixe cair no vazio de uma noite igual a qualquer outra. É como tecer de novo a corda e me agarrar a ela. Ano após ano. Não tem sentido. Este ano não. Resisto. Não vou enfrentar shoppings cheios, não vou correr atrás do peru, sempre na última hora, não vou ver um assalto no centro da cidade nem um homem esmurrando ou outro por causa de um esbarrão, um esbarrão! e ver o dente na calçada e o olhar do homem espantado, apavorado, na véspera de Natal, não vou ligar para a Ângela e tentar enfiar a mousse de atum no menu, não vou pedir pantufas de presente na lista de amigo oculto, não vou calçar aquela sandália de salto 15, eu que só ando descalça, não vou!
Vai ser uma noite como qualquer outra do ano, sem presente, só passado.