QUERIA...
Queria dizer muitas coisas. Dizer, por exemplo, que encontrei um mundo mais bonito aqui fora. Não encontrei. Se suportasse viajar, iria para Júpiter ou Netuno, mas nem sei o caminho direito. Queria dizer que fiz amigos melhores e mais fáceis do lado de cá, e que a solidão não dói mais.
Não posso. Ainda dói como uma unha encravada num sapato apertado, e eu continuo andando nem sei porquê.
Queria dizer que tenho muitas coisas para fazer, escrevo um livro, pinto um quadro, e que o tempo me falta. Não falta. Sobra. Descomunal e algoz, se esticando como um filete de água escorrendo lento por sob a porta fechada. E eu fico imaginando se vai para algum lugar ou nenhum. Nenhum, é o que a minha cabeça diz. Para o mar, é o que meu coração espera.
Queria dizer que tirei o roupão, penteei os cabelos, saà da frente do computador e fui viver. Normalmente. Felizmente. Não posso. Só quero um roupão novo, chinelos macios e mais megas de memória. No computador , que memória eu tenho e, parece, é só o que tenho.
Queria dizer que, enfim, encontrei Deus e que ele me acenou da esquina sem cinismo e, sentados no meio fio, Ele me explicou porquê. E que eu acreditei. E que agora tudo faz sentido. Não faz.
Queria dizer que isto não é um diário adolescente com suas manhas e sentimentos tolos, expostos como roupa no varal, ao sol. Não é mesmo. É só um ato, um gesto qualquer, sem conseqüência nenhuma, como um aceno de mão para ninguém.
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