quinta-feira, setembro 09, 2004

QUERIA...

Queria dizer muitas coisas. Dizer, por exemplo, que encontrei um mundo mais bonito aqui fora. Não encontrei. Se suportasse viajar, iria para Júpiter ou Netuno, mas nem sei o caminho direito. Queria dizer que fiz amigos melhores e mais fáceis do lado de cá, e que a solidão não dói mais.
Não posso. Ainda dói como uma unha encravada num sapato apertado, e eu continuo andando nem sei porquê.

Queria dizer que tenho muitas coisas para fazer, escrevo um livro, pinto um quadro, e que o tempo me falta. Não falta. Sobra. Descomunal e algoz, se esticando como um filete de água escorrendo lento por sob a porta fechada. E eu fico imaginando se vai para algum lugar ou nenhum. Nenhum, é o que a minha cabeça diz. Para o mar, é o que meu coração espera.

Queria dizer que tirei o roupão, penteei os cabelos, saí da frente do computador e fui viver. Normalmente. Felizmente. Não posso. Só quero um roupão novo, chinelos macios e mais megas de memória. No computador , que memória eu tenho e, parece, é só o que tenho.

Queria dizer que, enfim, encontrei Deus e que ele me acenou da esquina sem cinismo e, sentados no meio fio, Ele me explicou porquê. E que eu acreditei. E que agora tudo faz sentido. Não faz.

Queria dizer que isto não é um diário adolescente com suas manhas e sentimentos tolos, expostos como roupa no varal, ao sol. Não é mesmo. É só um ato, um gesto qualquer, sem conseqüência nenhuma, como um aceno de mão para ninguém.

Nenhum comentário: