quarta-feira, abril 21, 2004

OUTRA DIMENSÃO

Essa coisa de comunidade virtual não é de jeito nenhum, maneira de falar. Existe sim, e está em algum lugar. Não, não, não faça essa cara de quem está careca de saber do que estou falando. Não é exatamente isso que você está pensando. Pelo menos penso que não. Então. Quando pela primeira vez entrei numa sala de bate-papo, não foi difícil, nem sequer tive que fazer nenhum esforço, me sentir na sala.

Uma sala quadrada, com paredes, não observei bem se havia janelas, mas suponho que sim, porque havia pessoas que ficavam no parapeito, do lado de fora, observando. Porta havia sim, é por onde entravam as pessoas de nomes engraçados, bem mais bonitos e originais que os seus da vida real. Por um nome era quase possível desvendar a personalidade. Não a personalidade de Patrícia ou Ângela, mas de Anjinh@ e Eumesma.

Havia os que ficavam no cantinho, calados, misteriosos. Até sem nome, o que a princípio achava muito engraçado, mesmo sabendo depois que, com um código no lugar do nick, qualquer um podia entrar, e ficar assim. Não anonymous, com aquela máscara irritante e desleal por falta de nick, mas alguém de sobretudo inglês, encostado na porta, com um sorriso muitas vezes cínico nos lábios.

Os biscoitinhos existiam sim, naquela forma enroladinha do arrouba, e tinham gosto. Podiam ter até erva doce, temperando. Os drinks, a música no ar que alguém colocava, às vezes a gente até dançava como antigamente, e era doce. E muitas vezes tomava um pileque. Nada tinha assim uma forma concreta e definida, nem as pessoas, aliás, muito menos as pessoas, mas existia e tudo estava em algum lugar. Em um ponto geográfico. Um lugar em algum lugar. Talvez seja isto que alguns chamam de outra dimensão. Não sei qual é , mas é uma outra dimensão, onde as coisas existem não exatamente como estamos acostumados a vê-las e senti-las. E a Cinderel@ não era exatamente a Maria das Graças Pereira. De jeito nenhum. Nem o Anjo dos Olhos Verdes era José Maria da Silva. Mas nunca!

Daí o desencanto de muitos quando se conheciam nesta outra dimensão. Como é que alguém pode querer encontrar Cinderell@ num bar do Shpping? O que vai encontrar é Maria das Graças que pode ser inteiramente sem graça. E um José Maria que não tem nada de anjo, muito pelo contrário.

O que acontece no meu cérebro não sei. Sei que quando entro aqui, as coisas mudam. Isto aqui existe fisicamente. É um lugar em algum lugar. E quando vou no Carta estou indo num vizinho que fica aqui bem pertinho. A Ginik já mora um pouco mais longe, mas fica bem pertinho da Teca. A Gisela, para chegar lá, às vezes enfrento trânsito e muita neblina. A Meg fica pertinho daqui também, mas tem uma escadaria danada lá e muita gente que não conheço na sala. E eu fico meio sem jeito. A Tereza ( de minas) não mora em lugar nenhum, e acho que ela é uma espécie borboleta ou abelha, melhor, que vai colocando um pouquinho de mel em cada casa. O Matusca, vive mudando de casa, onde pouco vou, porque lá tem uma multidão, gente demais, chego e volto da porta. Para ir ao Pedro, tenho que pegar um elevador, o prédio é imponente, mas ele não abre a porta. Tenho que entrar pela janela. Não me perguntem como. A All about Eve, arrumou as malas um dia, e bateu em retirada, deixando muito poeira pelo caminho, tão rápido ia. E voltou. Arruma a casa, parece que passou uma temporada num misterioso mundo novo, e alguma coisa mudou. E assim vai. Não vou falar de todas as impressões de todas as pessoas que conheço ou conheci, porque daria um livro de trezentas páginas. E alguns moram muito longe.

Uma coisa muita boa deste lugar é que eu falo, falo, vocês me ouvem e até, me respondem, imagine. Na outra dimensão, falo muito pouco e baixo, daí não me escutarem na maioria das vezes. Geralmente fico num canto, com um sorriso meio cínico, ouvindo ou não ouvindo, e ninguém está muito preocupado em saber a minha opinião. Mesmo porque, se forem homens estarão muito ocupados em observar se as minhas pernas são dignas de atenção e, se forem mulheres, se a cor do meu cabelo é louro bege da Imedia ou da Koleston.
Eu devia ter escolhido outro nick para entrar na vida.

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